Pizza da Vó Madalena

Por Mariane Bandeira

Vim de uma família pequena. Eram apenas meu pai, minha mãe e eu. Não tenho muitas lembranças de minha mãe cozinhando, pois ela sempre foi a do tipo que trabalha fora. Mas uma coisa devo reconhecer que, devido ao meus pais cultivarem bons hábitos alimentares, eu aprendi a comer de tudo.

Desde que passei a ter uma ligeira consciência de mundo e a registrar minhas primeiras memórias, não me recordo, nem sequer uma única vez, de alguém me perguntar: “Você quer comer isso?”, ou, “O que você quer comer?”. Sempre fui ensinada a comer todos os itens que fossem servidos na mesa e sem reclamar, porque, afinal de contas, era sempre lembrada que alguém em algum lugar não tinha o que comer. Confesso que esse argumento mexe comigo até hoje. Enfim, dá para imaginar a confusão que foi quando comi pela primeira vez em um restaurante self service? Posso dizer, então, que a partir desse estilo de criação, desenvolvi um gosto amplo e diversificado para alimentos.

Sempre gostei de comida. Minha mãe diz que nunca dei trabalho para comer, fato que pode ser comprovado pelas fotos de criança e pelos apelidos carinhosos como, por exemplo, “fortinha”. Já superei essa fase. Comia de tudo: frutas, doces, pratos salgados, verduras, legumes, quiabo, jiló, sorvete, sanduiche, pipoca, biscoito recheado, iogurte, pães, etc. É claro que tinha limites para as besteiras. Mas o que colaborou para que eu desenvolvesse bons hábitos era a facilidade de acesso aos alimentos saudáveis. Meus cafés-da-manhã sempre tinham mais de duas opções de frutas. E não posso deixar de lembrar do melão com presunto! Hum... Deu água na boca! No almoço, havia pelos menos dois tipos de hortaliças que eu comia por livre e espontânea pressão, lembrando de alguém que estava passando fome aquela hora. Não concordo com chantagem emocional, mas essa funcionou direitinho. Além disso, a fruteira estava sempre abastecida e as frutas sempre lavadas e prontas para consumir.

Apesar da grande diversidade de minhas preferências alimentares, uma receita de família, em especial, ocupa um lugar privilegiado em minhas lembranças gastronômicas: pizza da vó Madalena. Como o nome já diz, a responsável pela receita era minha avó paterna, Maria Madalena. Não era apenas uma simples pizza de mussarela com orégano, mas sim algo que mobilizava a família inteira: 
minha vó fazia a massa, minha mãe preparava o molho de tomate caseiro e meu pai o grand finale: recheava e colocava na assadeira. Não havia nenhum segredo, senão esse: essa receita nos unia. Construímos boas lembranças, conversas agradáveis e momentos únicos. Para mim, é a prova de que o tempero dos alimentos vai além do sabor dos ingredientes, mas envolve a alma daqueles que compartilham a refeição, subjetivando os sabores.

Essa é parte da minha história contada por meio das experiências alimentares que, sem dúvida alguma, ajudaram a construir muito do que sou.

Eis aqui a receita da melhor pizza! A Pizza da Vó Madalena:


Pizza da vó Madalena
 Massa Ingredientes:
-       1 kg de farinha de trigo
-       1 ovo inteiro
-       1 envelope de fermento biológico
-       1 colher de sopa rasa de sal
-       1 colher de sopa rasa de açúcar
-       2 dedos de óleo (medir no copo de requeijão)
-       1 e ½ copo de requeijão de água (a temperatura ambiente)
-       1 e ½ copo de requeijão de leite (a temperatura ambiente)
 Modo de Preparo:
            Em uma bacia, colocar a farinha de trigo, o fermento, o sal, o açúcar e misturar. Fazer um furinho no meio e colocar o ovo, o óleo, a água e o leite. Mexer e amassar bastante a massa até dar o ponto (quanto desgrudar das mãos). Fazer um bolo e colocar para crescer durante, mais ou menos, 40 minutos. A massa irá dobrar de tamanho. Depois, e só fazer bolinhas menores, o suficiente para abrir a massa. Rende por volta de 14 discos.
 Molho de tomate caseiro Ingredientes:
-       6 tomates maduros sem sementes
-       ½ cebola média
-       4 dentes de alho
-       1 colher de sobremesa rasa de sal
-       1 colher de sobremesa rasa de açúcar
-       Azeite e orégano à gosto
 Modo de Preparo:
            Juntar todos os ingredientes e bater no liquidificador. Não deixar ficar muito líquido.
  Rechear a pizza como preferir e colocar para assar!

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Mariane é nutricionista e pesquisadora do PropagaNUT - Grupo de Pesquisa de Alimentação e Nutrição nas diferentes mídias do Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília.
Membro do clube de leitura Tempero de Palavras e apaixonada por comida, literatura e cinema! Nunca deixa de celebrar  pequenas a grandes conquistas em refeições que garante ficarem no que chama de "células admiráveis" - local do cérebro onde ficam armazenados os sabores e aromas dos alimentos que marcaram momentos especiais da vida.  Conceito este que defende após leitura do livro Confissões de Santo Agostinho.


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